Neste Barco À Vela - Nevada

1987 marcou o regresso de um tema patriótico aos triunfos no Festival. "Neste Barco À Vela", interpretado pelos Nevada, acabaria contudo por quase cair no esquecimento após a competição.



As classificações na Eurovisão nunca foram risonhas para os portugueses (salvo raras excepções), e a edição de 1987 voltou a não reservar grandes surpresas neste aspecto. "Neste Barco À Vela" terminou em 18º lugar, recebendo apenas 15 pontos.

Não Sejas Mau P'ra Mim - Dora

Irreverência foi a palavra de ordem no Festival da Canção de 1986. Irreverente era o tema vencedor, como o era a sua intérprete, a jovem Dora (tinha então apenas 20 anos). Não sendo um tema de uma grande complexidade melódica nem ao nível da letra, acabou por ficar no ouvido, continuando a ser muito conhecida nos dias de hoje.



No certame internacional, mais um resultado modesto. "Não Sejas Mau P´ra Mim" ficou em 14º, com 28 pontos.

Penso em Ti (Eu Sei) - Adelaide Ferreira

1985 voltou a coroar uma mulher como a rainha do Festival. Depois de Maria Guinot em 1984, Adelaide Ferreira foi a grande vencedora no ano seguinte, com uma música surpreendente tendo em conta o seu reportório até então - marcadamente pop/rock. No Festival, a cantora surgiu com uma balada romântica, que lhe garantiria o triunfo.



Na Eurovisão, porém, mais uma vez o panorama foi desolador. "Penso em ti (Eu Sei)" quedou-se pelo penúltimo lugar (18º), com apenas 9 pontos.

Silêncio e Tanta Gente - Maria Guinot

Cinco anos depois de Manuela Bravo ter vencido o Festival, eis que volta a ser uma mulher a sagrar-se vencedora. Maria Guinot deu voz a "Silêncio e Tanta Gente", uma balada interpretada pela própria cantora enquanto a toca ao piano.



Mais uma vez, o tema português acabou por ficar mal colocado na Eurovisão, classificando-se apenas em 11º, com 38 pontos, apesar da beleza da letra e da melodia. Seriam posteriormente gravadas versões em inglês, francês, alemão e finlandês.

Esta Balada Que Te Dou - Armando Gama

"Esta balada que te dou" foi o tema vencedor em 1983, num regresso às músicas românticas suaves. Armando Gama, na altura já um cantor conhecido no mercado português, entrou assim na História da música portuguesa.



O tema, uma balada tocada ao piano pelo próprio Armando Gama, acaba por ser editado em 17 países, chegando aos tops na Bélgica. Ainda assim, não consegue nenhum lugar de relevo na Eurovisão: termina em 13º, com 33 pontos. Mais tarde causou alguma polémica o facto de muitos dizerem que seria um plágio da música "Still Crazy After All These Years", de Paul Simon.

Bem Bom - Doce

A edição de 1982 foi ganha por um dos grupos mais na moda em Portugal na altura: as Doce. Uma das primeiras girlsband da Europa, acabaram por vencer a competição com um tema light que fala sobre o desenvolvimento de uma noite amorosa.



Na Eurovisão, apesar do sucesso em termos de imagem que fizeram, acabaram por não conseguir melhor que um 13º lugar, com 32 pontos.

Playback - Carlos Paião

Depois de um mestre, ganhou outro. Se José Cid havia ganho o Festival em 1980 com "Um Grande, Grande Amor", Carlos Paião não lhe ficaria atrás, vencendo em 1981 com a canção "Playback", uma sátira ao uso excessivo dessa "artimanha". O jovem cantor entrava assim para a história da música portuguesa.



Apesar da qualidade do tema e da interpretação de Paião, "Playback" não foi além do 18º (e penúltimo) lugar na Eurovisão, com apenas 9 pontos.

Um Grande, Grande Amor - José Cid

1980 consagrou como vencedor do Festival um dos mais talentosos músicos e intérpretes que passou pela competição: José Cid. "Um Grande, Grande Amor" é um tema romântico mas divertido, repleto de comparações e metáforas para explicar o sentimento do protagonista. Viria a ser um sucesso tremendo em Portugal após vencer a competição (ainda hoje o é), tendo sido regravado em inglês, francês, castelhano e holandês.



Na Eurovisão, apesar de não ter atingido a posição que se chegou a esperar (falava-se que a canção era a grande favorita para vencer a prova), terminou no sétimo lugar (melhor classificação de sempre até à data, juntamente com "Festa da Vida", de Carlos Mendes), com 71 pontos.

Sobe, Sobe, Balão, Sobe - Manuela Bravo

1979 marcou o regresso de uma mulher a vencer o Festival da Canção, algo que não acontecia desde 1971, com Tonicha. Manuela Bravo, então com 22 anos, conquistou o júri com "Sobe, Sobe, Balão, Sobe", um tema romântico mas divertido. Na apresentação do certame estava uma jovem Manuela Moura Guedes.



Depois de várias classificações perto do desastroso, esta canção conseguiu ficar no top-10 da Eurovisão: terminou em nono lugar, com 64 pontos.

Dai-Li-Dou - Gemini

O Festival de 1978 voltou a ter um formato diferente: participaram apenas três intérpretes com quatro canções cada um. Os Gemini, grupo formado por Tozé Brito, Mike Sergeant, Teresa Miguel e Isabel Ferrão, sagraram-se vencedores com o tema "Dai-Li-Dou".



Um tema despretensioso, divertido, mas que mesmo assim não serviu para atingir os mais altos lugares na Eurovisão. Terminaria em 17º, com apenas cinco pontos.

Portugal no Coração - Os Amigos

Fernando Tordo e Paulo de Carvalho voltaram à carga em 1977, vencendo o Festival desta vez inseridos num grupo, denominado "Os Amigos" - Ana Bola, Fernanda Piçarra, Luísa Basto e Edmundo Silva. Nesta edição, foram tocadas sete músicas, cada uma com duas versões diferentes. A segunda versão seria interpretada pelos Gemini, grupo onde Tozé Brito era o nome mais sonante, mas seria a d' "Os Amigos" a vencer.



Uma letra virada absolutamente para o patriotismo, que também não foi propriamente um grande sucesso na Eurovisão: ficou-se pelo 14º lugar, com 19 pontos.

Flor de Verde Pinho - Carlos do Carmo

Em 1976, Carlos do Carmo foi designado para interpretar todas as músicas desse Festival, destinando-se a votação apenas a escolher qual o tema que o fadista levaria à Eurovisão. Ganhou "Flor de Verde Pinho", que contou com a participação de Manuel Alegre na versão para o Festival em Portugal.



Um tema romântico, "Flor de Verde Pinho" foi mais um dos temas portugueses a ficar abaixo dos dez primeiros na Eurovisão. Terminaria em 12º, com 24 pontos.

Madrugada - Duarte Mendes

A canção vencedora em 1975 continuou ligada ao 25 de Abril: o seu intérprete, Duarte Mendes, esteve presente na revolução dos cravos como um dos "capitães de Abril". "Madrugada", um tema patriótico, sagrar-se-ia assim o 11º vencedor do Festival da Canção.



Na Eurovisão, e apesar da qualidade do tema, o resultado voltou a ser fraquinho: Portugal ficou no antepenúltimo lugar, com apenas 16 pontos.

E Depois do Adeus - Paulo de Carvalho

Ao contrário do ano anterior, em 1974 o tema vencedor não teve qualquer mensagem política subliminar. "E Depois do Adeus" era uma balada onde o cantor se apercebe de que a sua relação amorosa está a chegar ao fim. Ainda assim, a canção acabou por ficar para sempre ligada a um dos mais importantes eventos políticos da história do país, pois serviu de primeira senha para o início da Revolução de 25 de Abril. O motivo foi simples: havia ganho o Festival meses antes, pelo que estava em voga na altura, e assim não levantaria suspeitas ao ser emitida nas rádios. A segunda senha, "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso, essa sim seria o ponto de partida para o avançar das tropas.



Apesar da beleza da composição e letra, voltámos aos velhos tempos de classificações miseráveis na Eurovisão: "E Depois do Adeus" terminou em último, com apenas três pontos, empatado com Alemanha, Noruega e Suíça.

Tourada - Fernando Tordo

Uma das vencedoras mais curiosas de sempre foi "Tourada". Com letra de Ary dos Santos e composição de Fernando Tordo, o tema é claramente uma metáfora da decadência do Estado Novo, mas estranhamente passou pelo crivo da censura e chegou ao Festival. E ganhou.



E se a mensagem não foi compreendida em Portugal, dificilmente o seria na Eurovisão, razão pela qual não houve qualquer impedimento para que pudesse participar na prova. Acabaria por se classificar em 10º lugar, com 80 pontos.

Festa da Vida - Carlos Mendes

Em 1972, Carlos Mendes tornou-se o segundo intérprete a vencer o Festival da Canção em duas ocasiões, depois de Simone de Oliveira. Mendes ganhou a competição com "Festa da Vida", um tema bem mais elaborado e com uma mensagem mais forte que "Verão", tema com que havia vencido em 1968.



"Festa da Vida" conseguiu superar o feito de "Menina", que Portugal havia enviado à Eurovisão no ano anterior, e que se tinha classificado em nono lugar. O tema de Carlos Mendes terminou em sétimo, com 90 pontos, marca que demoraria ainda alguns anos para ser superada.

Menina - Tonicha

"Menina", que depois se passou a chamar "Menina do Alto da Serra", foi o tema vencedor em 1971. Interpretado por Tonicha, que já havia participado em edições anteriores, foi um tema composto por Nuno Nazareth Fernandes e com letra de Ary dos Santos. Tinha, portanto, tudo para vencer. Como aconteceu.



Um tema simples, em forma de balada, que descreve uma rapariga do campo, deu a Portugal a melhor classificação até então na Eurovisão: nono lugar, com 83 pontos. Tonicha viria a gravar mais cinco versões do tema: duas em francês ("Bergère" e "Quand l'eté viendra demain"), uma em inglês ("Country girl"), uma em castelhano ("Niña") e uma em italiano ("Ragazza della campagna").

Onde Vais Rio Que Eu Canto - Sérgio Borges

Em 1970, o Festival da Canção foi ganho pela primeira vez por um madeirense. Sérgio Borges, que já havia participado noutras edições, sagrou-se vencedor com um tema que é uma metáfora ao decorrer da vida e do amor: "Onde Vais Rio Que Eu Canto". Neste ano Portugal recusou-se a participar no Festival da Eurovisão, em protesto contra o sistema de votações da competição - no ano anterior tinha havido quatro vencedores, pois não havia critérios de desempate.

Desfolhada - Simone de Oliveira

1969 reservou-nos uma das melhores músicas de sempre a ganhar um Festival da Canção, bem como a primeira repetente a vencer a competição. Com a "Desfolhada" (também apelidada de "Desfolhada Portuguesa"), Simone de Oliveira ganhou definitivamente um lugar no panteão máximo da música portuguesa.



Um tema patriótico, ainda que não o pareça - e feita uma metáfora entre o amor de que resulta a concepção de uma criança e esse amor patriótico -, "Desfolhada" deu que falar pelo verso "Quem faz um filho, fá-lo por gosto". Na Eurovisão, no entanto, o resultado voltou a não ser bom: a canção ficou em penúltimo (15º lugar), com apenas quatro pontos. Ainda assim, Simone regravá-la-ia em mais três línguas: francês ("Terre guitare"), castelhano ("Deshojada") e italiano ("Terra chitarra").

Verão - Carlos Mendes

O tema vencedor em 1968 permanece na mesma área: é uma música de estilo chanson sobre o amor, mais propriamente sobre um amor que terminou. A palavra "Verão" é uma metáfora da relação, no caso da relação que terminou.



Tal como aconteceu com "O Vento Mudou", de Eduardo Nascimento, este tema também mereceu regravações noutras línguas: francês ("Verão") e castelhano ("Verano"). Também não ficaria num lugar muito famoso, todavia, na Eurovisão: 11º, com cinco pontos.

O Vento Mudou - Eduardo Nascimento

O tema vencedor de 1967 foi surpreendente. Não pela (elevada) qualidade da composição e da letra - novamente sobre uma relação amorosa, desta vez uma que se acabou -, mas sim por quem o interpretou: Eduardo Nascimento, um cantor negro, algo raro em Portugal naquele tempo.



Chegou a dizer-se que tinha sido o próprio Salazar a ordenar que fosse Eduardo Nascimento a representar Portugal na Eurovisão para desmistificar a ideia de que o regime salazarista era racista. O que é facto é que Nascimento foi mesmo o primeiro cantor negro de sempre na Eurovisão, terminando a prova em 12º lugar, com três pontos. O cantor chegou a gravar uma versão em inglês do tema, intitulada "Listen".

Ele e Ela - Madalena Iglésias

Na terceira edição do Festival RTP da Canção, sagrou-se vencedora Madalena Iglésias, na altura, juntamente com Simone de Oliveira, uma das rainhas da rádio e uma das vozes mais importantes do chamado nacional-cançonetismo. "Ele e Ela" foi a canção escolhida para representar Portugal na Europa.



Um tema em estilo surf, "Ele e Ela" fala de forma divertida da história dois amantes. Apesar de não conseguir uma classificação fantástica (fica em 13º, com seis pontos), faz sucesso na Eurovisão, dando origem a uma versão em espanhol - "Él Y Ella" - que acaba por ser editada em Espanha, França e Holanda.

Sol de Inverno - Simone de Oliveira

Depois de "Oração", chega-nos o "Sol de Inverno", interpretado por Simone de Oliveira, já na altura uma diva das rádios.



Também do estilo chanson, tal como "Oração", é mais um tema sobre o amor, no caso um amor que está a chegar ao fim - não por vontade da protagonista, mas sim pela outra parte. Apesar da beleza da composição e da letra, Simone também não granjeou muitos votos na Eurovisão: apenas um, que lhe deu o 13º lugar, empatada com a Noruega. Pior só Bélgica, Finlândia, Alemanha e Espanha, que saíram sem qualquer ponto.

Oração - António Calvário

Inauguro hoje a primeira rubrica deste blog, subordinada ao tema "Festival da Canção". E como não podia deixar de ser, começaremos por recordar a primeira música vencedora do evento. Interpretada por António Calvário, "Oração" foi a canção que venceu o primeiro Festival RTP da Canção, ganhando assim o direito a representar Portugal na Eurovisão.



Um tema de estilo chanson, muito em voga nos primeiros anos da Eurovisão, e que toma a forma de uma oração, onde Calvário fala com Deus à procura de perdão por ter feito sofrer a sua amante. Ainda assim, a estreia nos palcos da Eurovisão não foi a mais famosa: Calvário foi assobiado, devido ao regime salazarista (chegou a entrar um manifestante no recinto com cartazes a pedir "Boicote" às participações de Espanha e de Portugal), e não recebeu qualquer voto, classificando-se em último lugar, ex-aequo com Alemanha, Suíça e Jugoslávia.

Introdução

Este é só mais um blog de música. É disso que se vai tratar aqui: apenas música. E música feita apenas e só em Portugal. Sucessos de sempre, de ontem e de hoje. Temas e estilos musicais que marcaram a vida de Portugal ao longo de várias gerações. Porque se há país com uma cultura musical riquíssima e assinalável, esse país é Portugal.

Por isso, deixem-se levar pelo som que é nosso!